Soneto XX de "Íntima parábola"

O simples ser e estar na clara cidadela,
vendo em cada jardim outro jardim sonhado.
De onde instalei meu ser debruçar-me à janela
que se abre sobre o feudo instável do meu fado.
Quatro pontos cardeais . . . e estas quatro paredes
em que risco na cal rotas com que me iludo.
Recebes nas manhãs o sol qual vós o vedes,
e dar às mãos do tempo os nadas que são tudo.
Domado e solto o amor, através de uma lente
olha o infinito e alcança a mulher que quisera.
Corro ao mar a esperar que antigo mar se invente
e arroje sobre o mundo a praia e a primavera.
Bebo aos goles a vida, e nada peço mais.
Mas sempre que olho o mar, sonha um barco no cais.

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