Como a juntar meus próprios ossos
debrucei-me sobre lembranças
que acreditava em frias poças
mas nunca em águas assim mansas
nem neste rio longe e próximo.
É tão bom quedar-me em tais margens
junto de águas que nunca bebo,
onde por muito contemplar-se
o céu da tarde ficou bêbado
e entortaram-se aquelas árvores.
Meu Sena amigo, tantas vezes
parei neste cais dolorido,
que uma possível correnteza
levará em meio a detritos,
toda minha alma pelo avesso.
Perguntas, silêncios e fomes
- tudo te trago qual um filho.
E algo de mim se desmorona
aqui nestas bordas tranqüilas,
pois ci-gît mon coeur vagabond
Barcos de solidões flutuam
sobre tuas noites - e afogas
louros fantasmas de uma lua
mais longínqua, mais melancólica,
mais de outro mundo do que a Lua.
De ti me abeiro, e me dissolvo,
mas nunca me sinto sozinho.
Os que têm ouvido aqui ouvem
palavras que um dia o destino
prendeu a trechos de Beethoven.
Ou são falas de amar que escuto?
Meu rio, de mim o que guardas?
Sei de meu coração sepulto
nalgum ponto de tuas margens,
mas sei que de há muito está mudo.
Em volta a cidade, profunda,
vai pelos dois lados do rio.
Para lá da cidade, o mundo.
Mais para lá, o amor que tive ...
meu rio como eu vagabundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário